Por Leo Mendes (Diário do Centro do Mundo)
O mercado dos protestos verde-amarelos parece ensaiar uma retomada do crescimento. Se desde o impeachment de Dilma, grupos como Revoltados On Line, Vem pra Rua, MBL pareciam ter perdido a razão de ser, nesse domingo conseguiram uma espécie de renovação.
Ao perder o seu principal produto, o impeachment, ainda não haviam encontrado um outro para colocar na prateleira e se reposicionar no mercado. Não podiam colocar seu aliado Michel Temer no lugar de Dilma, nem mesmo Eduardo Cunha, e nesse vácuo deixado pela saída da presidenta eleita e do gangster, eis que caiu como uma luva Renan Calheiros e seus 12 processos.
Já Moro também precisa permanentemente de um antagonista forte para continuar merecedor dos holofotes e da trajetória do herói. E os coxas, bom, os coxas precisam de um herói, de um vilão e de uma ideologia. Precisam acreditar que compreenderam, e que sabem o que precisa ser feito. Primeiro tirar a Dilma, depois Cunha, agora Renan… e assim indefinidamente.
É claro que há os mais radicais, que já não acreditam nesse jogo, e tem certeza de que só mesmo fechando o Congresso, e com o poder entregue outra vez aos militares.
No Rio de Janeiro, um desses apoiadores da intervenção militar, com o microfone na mão gritava que prender não é suficiente. “É preciso matar, cortar em pedaços e jogar num saco de lixo”. A pequena multidão em volta aplaudia ou parecia não se importar o suficiente em estar do lado de um assassino.
Mas o fato é o que o capitalismo pode vender tudo, inclusive kits de monstruosidade, e os protestos coxa são mais uma mercadoria. Um produto que promete fazer de você alguém engajado, preocupado com a pátria, em defesa da moral e da ordem.
Um produto que também lhe garante certo status, uma noção de pertencimento à elite que financia esses protestos – vide o pato da FIESP.
Mas talvez “protesto” não seja a melhor palavra para definir esse produto. Parece mais um anti-protesto, uma forma pacífica e ordeira de manter as coisas exatamente como estão.